Hoje decidi discorrer acerca de dois temas interligados e que já foram abordados neste espaço: a comunidade de Camerino e o chef Roberto Frifrì. Isto porque, até aqui, apenas apontei o Roberto como um exímio conhecedor da bebida dos deuses - o que, diga-se de passagem, é a mais pura verdade -, contudo, antes de mais nada, nosso amável personagem é dono e chef de um simpático estabelecimento na cidade acima aludida: o famoso, ao menos para seus habitantes, Noè Wine & Food.
A Itália renascentista caracterizava-se pela existência de inúmeros pequenos estados, cada qual seguindo comportamento diverso em relação aos hebreus que, à época, chegavam à Península em ondas migratórias. Camerino era um importante centro de tráfego de mercadorias entre o porto de Ancona e Roma.
Em 1439, o Duque de Milão Francesco Sforza, que havia conquistado Ancona, precisando de pecunia numerata para o desenvolvimento e exportação dos produtos de Camerino, fez um acordo com os hebreus, que passaram a povoar a cidade por muitas gerações.
Porém, em 1545, Camerino tornou-se estado papal e passou ao domínio direto da Igreja Católica. Com isso, a nova política instaurada visou a conversão dos judeus ao cristianismo. Foi um período de repressão, degradação e segregação dos hebreus, que deveriam morar em zonas circunscritas. Criaram-se, assim, os guetos judaicos.
Mais tarde, os hebreus de Camerino foram convidados a alojar-se em uma pequena zona, entre a atual Piazza Garibaldi e a hoje desconsagrada Chiesa di San Francesco, no local que passou a ser conhecido como Giudecca: um emaranhado de casas simples cortadas por ruas estreitas e sinuosas, cujos prédios têm janelas que somente se abrem para o interior do bairro, e este, por ser estrategicamente construído, de forma que um edifício abrace seu vizinho, tornou dispensável erguer muros que o "isolassem" do restante da cidade.
Atualmente os hebreus não mais se encontram em Camerino. Foram expulsos em 1569. Para trás, deixaram sua história, bem-feitorias e o agradável Vicolo della Giudecca.
Ufa, chega! Eu sei que tergiversei um pouco, mas resolvi compor, de forma perfunctória, a passagem acima, apenas para situá-los em relação à localização do Noè Wine & Food, praticamente apenso ao quartiere judaico, restando imediatamente em uma de suas duas saídas, no Largo Boccati.
A osteria do Roberto não prima pelo luxo. Ao contrário, não poderia ser mais simples. O local é composto por uma sala única com, no máximo, oito mesas espalhadas pelo seu interior, além de um pequeno balcão e da cozinha, de onde saem os quitutes do chef. Cabe-me ressaltar que a higiene do restaurante é impecável e o atendimento rápido e atencioso.
O menu é a prova de que se trata de um espaço quase familiar. Notem os valores sugeridos pelo chef, talvez o restaurante mais econômico da cidade. Ademais, o cardápio é renovado a cada semana, dependendo da estação do ano, embora algumas opções permaneçam ad eternum.
Ilustro, a patir de agora, alguns pratos que comi no Noè. Começo, portanto, com essas Olive Ascolani ( € 5 ). Já expliquei o que são, no post sobre a Pizzeria Da Baffetto, então aqui acrescento apenas que estas estavam superiores àquelas. Possivelmente porque Camerino é praticamente vizinha da cidade marchegiana de Ascoli Piceno, berço destas maravilhas.
A seguir, este saborosíssimo Tagliatelle con gorgonzola, tartufo e pistacchi ( € 8 ). Diferente dos sabores de massa que já experimentei no Brasil, foi uma grata surpresa. Ingredientes de qualidade e não veio afogada no próprio molho.
Eis o melhor prato que degustei no Noè, um Risotto con taleggio e radicchio ( € 8 ). Risotto é uma especialidade italiana e provei os mais fantásticos de minha vida no Bel Paese, mas este sempre recordarei com carinho. O diferencial é o taleggio, um queijo semimole cremoso, de fragrância suave, tradicional do norte da Itália, e que, por não ser enjoativo, casou muito bem com a chicória.
Os secondi piatti do Noè são singelos, geralmente boi, porco ou carneiro grelhados, o que não os tornou menos desejados por mim. Dentre os muitos que comi, destaco dois, até para que esta leitura não fique extensa e cansativa. O primeiro é este Paillard al balsamico, grana e pesto di rucola ( € 8 ). A foto é autoexplicativa: dois finos filés de vitela cobertos pelo delicioso queijo grana padano e regados no vinagre balsâmico.
E, por fim, estes Polpettoni con pancetta ( € 8 ). Macios, super temperados, no ponto exato (para meu gosto, evidentemente) e envoltos por uma fina tira de bacon. Lembrou-me bastante um bife hamburguês.
Como também já mencionei em publicações passadas, na Itália dificilmente os pratos vêem com acompanhamentos. Estes têm que ser solicitados à parte. Escolhi as Patate arrosto ( € 2,5 ), cortadas em forma de pastéis.
Estive no Noè inúmeras vezes em minha última ida à Itália. Devido a todas as qualidades que elenquei ao longo deste post, recomendo decididamente a todos vocês que um dia resolverem aventurar-se por Camerino. Certamente sairão muito bem alimentados e tão satisfeitos quanto eu. E, quem sabe, escutarão, ainda, alguma pérola do Roberto Frifrì, sempre muito cortês e atencioso com seus clientes.
ENDEREÇO:
Largo Boccati, 6, Camerino
Tel. +39 0737 630 874
http://www.noewineandfood.it/
Em 1439, o Duque de Milão Francesco Sforza, que havia conquistado Ancona, precisando de pecunia numerata para o desenvolvimento e exportação dos produtos de Camerino, fez um acordo com os hebreus, que passaram a povoar a cidade por muitas gerações.
Porém, em 1545, Camerino tornou-se estado papal e passou ao domínio direto da Igreja Católica. Com isso, a nova política instaurada visou a conversão dos judeus ao cristianismo. Foi um período de repressão, degradação e segregação dos hebreus, que deveriam morar em zonas circunscritas. Criaram-se, assim, os guetos judaicos.
Mais tarde, os hebreus de Camerino foram convidados a alojar-se em uma pequena zona, entre a atual Piazza Garibaldi e a hoje desconsagrada Chiesa di San Francesco, no local que passou a ser conhecido como Giudecca: um emaranhado de casas simples cortadas por ruas estreitas e sinuosas, cujos prédios têm janelas que somente se abrem para o interior do bairro, e este, por ser estrategicamente construído, de forma que um edifício abrace seu vizinho, tornou dispensável erguer muros que o "isolassem" do restante da cidade.
Atualmente os hebreus não mais se encontram em Camerino. Foram expulsos em 1569. Para trás, deixaram sua história, bem-feitorias e o agradável Vicolo della Giudecca.
Ufa, chega! Eu sei que tergiversei um pouco, mas resolvi compor, de forma perfunctória, a passagem acima, apenas para situá-los em relação à localização do Noè Wine & Food, praticamente apenso ao quartiere judaico, restando imediatamente em uma de suas duas saídas, no Largo Boccati.
A osteria do Roberto não prima pelo luxo. Ao contrário, não poderia ser mais simples. O local é composto por uma sala única com, no máximo, oito mesas espalhadas pelo seu interior, além de um pequeno balcão e da cozinha, de onde saem os quitutes do chef. Cabe-me ressaltar que a higiene do restaurante é impecável e o atendimento rápido e atencioso.
O menu é a prova de que se trata de um espaço quase familiar. Notem os valores sugeridos pelo chef, talvez o restaurante mais econômico da cidade. Ademais, o cardápio é renovado a cada semana, dependendo da estação do ano, embora algumas opções permaneçam ad eternum.
Ilustro, a patir de agora, alguns pratos que comi no Noè. Começo, portanto, com essas Olive Ascolani ( € 5 ). Já expliquei o que são, no post sobre a Pizzeria Da Baffetto, então aqui acrescento apenas que estas estavam superiores àquelas. Possivelmente porque Camerino é praticamente vizinha da cidade marchegiana de Ascoli Piceno, berço destas maravilhas.
A seguir, este saborosíssimo Tagliatelle con gorgonzola, tartufo e pistacchi ( € 8 ). Diferente dos sabores de massa que já experimentei no Brasil, foi uma grata surpresa. Ingredientes de qualidade e não veio afogada no próprio molho.
Eis o melhor prato que degustei no Noè, um Risotto con taleggio e radicchio ( € 8 ). Risotto é uma especialidade italiana e provei os mais fantásticos de minha vida no Bel Paese, mas este sempre recordarei com carinho. O diferencial é o taleggio, um queijo semimole cremoso, de fragrância suave, tradicional do norte da Itália, e que, por não ser enjoativo, casou muito bem com a chicória.
Os secondi piatti do Noè são singelos, geralmente boi, porco ou carneiro grelhados, o que não os tornou menos desejados por mim. Dentre os muitos que comi, destaco dois, até para que esta leitura não fique extensa e cansativa. O primeiro é este Paillard al balsamico, grana e pesto di rucola ( € 8 ). A foto é autoexplicativa: dois finos filés de vitela cobertos pelo delicioso queijo grana padano e regados no vinagre balsâmico.
E, por fim, estes Polpettoni con pancetta ( € 8 ). Macios, super temperados, no ponto exato (para meu gosto, evidentemente) e envoltos por uma fina tira de bacon. Lembrou-me bastante um bife hamburguês.
Como também já mencionei em publicações passadas, na Itália dificilmente os pratos vêem com acompanhamentos. Estes têm que ser solicitados à parte. Escolhi as Patate arrosto ( € 2,5 ), cortadas em forma de pastéis.
Estive no Noè inúmeras vezes em minha última ida à Itália. Devido a todas as qualidades que elenquei ao longo deste post, recomendo decididamente a todos vocês que um dia resolverem aventurar-se por Camerino. Certamente sairão muito bem alimentados e tão satisfeitos quanto eu. E, quem sabe, escutarão, ainda, alguma pérola do Roberto Frifrì, sempre muito cortês e atencioso com seus clientes.
ENDEREÇO:
Largo Boccati, 6, Camerino
Tel. +39 0737 630 874
http://www.noewineandfood.it/
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