quarta-feira, 1 de agosto de 2012

RISTORANTE DA MEO PATACCA - O Paraíso dos Turistas em Roma

Havia um homem. Um policial, para ser mais exato. Todos os moradores daquele lado da cidade o conheciam e o cumprimentavam diariamente, tendo como retribuição seu sorriso amável e caloroso. Era muito respeitado.

Passavam das oito horas daquela noite. As ruas se esvaziavam rapidamente, na mesma proporção que a temperatura caía. A sensação de tranqüilidade e segurança trazidas pelo sol há muito tinha dado lugar ao bruxulear das luzes fantasmagóricas, característica marcante das ruas do Trastevere de 1920 após o anoitecer. As últimas portas de estabelecimentos comerciais fechavam-se estrondosamente. Aos poucos, as janelas dos lares exibiam diferentes cores e claridades e, em alguns pontos, já era possível sentir o aroma de comida caseira sendo preparada.

Como de hábito, nosso policial fazia sua rotineira patrulha noturna, com a mesma disposição e empenho de sempre. Mas havia algo diferente no ar, o que, é claro, não fugiu aos olhares curiosos dos moradores que ali se encontravam. É sabido que os policiais em Roma sempre circulam em duplas, mas, pela primeira vez desde que fora transferido para a circunscrição do Trastevere, ele achava-se desacompanhado. Por que? Ninguém sabia responder a esta indagação.

Depois, apenas descreveram que ele fora visto marchando por entre as labirínticas ruas do bairro, com passos firmes e ar determinado, até chegar ao estreito Vicolo de' Cinque, aonde adentrou em uma residência, para de lá nunca mais sair.

Sua esposa e filhos passaram meses, anos, esperando pelo seu retorno, que jamais aconteceu. Qual teria sido o destino de nosso protagonista? Qual a explicação para tão insólito epílogo da vida deste cidadão? Este denso mistério, ainda hoje, permanece sem solução.

Quando Michele, recepcionista do hotel no qual me hospedo ao visitar Roma, calou-se, permaneci cerca de dez segundos com meus olhos arregalados e sem piscar, tamanha era minha imersão na história que acabara de ouvir. Sempre fui um apaixonado por lendas e contos locais. Creio que enriqueçam uma viagem e dêem particularidade a uma cidade. E pensar que tudo começou com uma simples menção que eu fiz ao nome Trastevere.



O Trastevere fica na margem oeste do rio Tevere (Tibre, em português) e é o mais antigo e, porque não, um dos mais fascinantes bairros da capital italiana, com sua grande tradição histórica, fértil em eventos e anedotas, que sobrevivem na memória popular e tornam-se parte do encantador folclore romano. Destino e atração para turistas de todo o mundo, é, ainda, ponto de encontro para adolescentes e jovens romanos que ocupam as ruas do bairro durante toda a noite.

Hoje, o Trastevere é igualmente famoso pelos seus restaurantes, muitos dos quais lhe conferem um ar boêmio com suas mesas e cadeiras postas nas praças, ruas e esquinas.



Foi no coração do Trastevere que deparei-me com a belíssima Piazza dei Mercanti, sítio que outrora funcionava como sede para encontros de capitães, mercadores e proprietários de navios que se instalavam no porto vizinho de Ripa Grande.



Lá, estive em um restaurante super-lotado chamado Meo Patacca, ideal para quem procura um jantar divertido, acústico e teatral. Calma, irei explicar-me para que entendam.


Com sua iluminação ambiente à gás e velas, decoração característica, garçons em trajes de época e atmosfera de uma pitoresca pousada do início do século XIX, o Meo Patacca é um programa diferente e uma experiência única em solo romano. Aqui, conserva-se o espírito da Roma malandra e brincalhona.



Não se enganem, o Meo Patacca é, antes de tudo, uma aventura turística, especialmente se vocês resolverem tomar assento na área externa do restaurante. Prova disto, são os cantanti típicos que visitam todas as mesas, narrando chistes e bradando cantigas romanas.

Quando eu pensei "ok, é isso", eis que sou surpreendido pelo início de uma autêntica peça teatral. Do andar superior do prédio, surge uma linda mulher, debruça-se na sacada e começa a jogar beijos para os cantores. Estes, por sua vez, correspondem entoando melodias românticas para sua musa.

Vem à cena, então, o marido traído, pançudo, segurando uma frigideira e portando pijama (com gorrinho de dormir e tudo). Chega puxando sua esposa da sacada, para após gesticular e urrar em direção aos "mariachi", que apenas sorriem e divertem-se ao som de músicas de celebração.

Ao término da apresentação, os "atores" são agraciados com uma salva de palmas, vindas das diversas mesas do restaurante, todas apinhadas de turistas. A mesa contígua à minha era composta por italianos, mas acredito que também sejam viajantes. Sei lá, não consigo imaginar romanos nativos comendo lá. Não porque seja ruim - não é - mas por ser um programa voltado ao turismo.



Basta! Vamos, sem mais delongas, aos pratos! Comecemos, então, por este Ravioli alla Menta con Ragù Bianco d'Agnello e Pecorino ( € 14 ).

Por mais que eu aprecie determinados restaurantes especializados em cozinha italiana aqui no Brasil (poucos!), sempre me causa espanto a forma como os italianos cuidam de seus pratos em sua terra natal. A massa chegou al dente, com a quantidade suficiente de carne de carneiro e recheada de queijo de ovelha e folhas de menta. São ingredientes simples, mas que ficam incríveis quando unidos.


Após, submeti-me à um prato que há muito desejava provar, a Coda alla Vaccinara ( € 16 ). Obviamente rabada não é a comida mais bonita de se ver, mas no tocante ao sabor, que é o que realmente importa, passou no teste. Substanciosa, bem temperada e macia, a rabada não admite preguiçosos, já que exige trabalho considerável para desossá-la.

Nota importante: na Itália, os pratos não vêem à mesa, em regra, com contorni (acompanhamentos). É necessário solicitá-los separadamente, ou seja, somam-se mais alguns poucos euros na conta. Neste caso, pedi uma porção de Patatine Fritte ( € 5 ).



Agora, o momento festa infantil. Primeiro com uma fatia de Torta di Limone ( € 6 ), com massa molhada e ligeira, coberta com glacé e recheio azedo de limão...



... seguida por esta Torta di Gelato ( € 6 ) cheia de adornos e cores, super divertida de ver e comer. Senti o gostinho da minha infância a cada colherada.

Para quem não faz nenhuma questão de comer doces, até que eu estava uma formiguinha naquela noite. Acredito que eu tenha sido contaminado pelo ambiente vívido e sonoro do Meo Patacca (bem como pelo litro de vinho consumido). Afinal, quem era eu senão um turista no "Paraíso dos Turistas em Roma"?

ENDEREÇO:
Piazza dei Mercanti, 30, Roma
Horários: todos os dias, das 19:30 às 23:30
Tel. +39 06 5816198
http://www.ristorantedameopatacca.com/
Recomendam-se reservas

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