quarta-feira, 25 de julho de 2012

CANTINETTA ANTINORI - Tradição, Paixão e Intuição

Meu despertador soou e acordei de sopetão e meio contrariado. Ainda sonolento, morosamente espantei a preguiça para enfim deixar o conforto quase materno da minha cama. Abri a janela somente para ter certeza de quão rigoroso estava aquele inverno na Itália. Mas hoje eu não tinha tempo para indolência, afinal havia me comprometido, na véspera, a encontrar-me com Marcelo, meu primo que reside, há muitas luas, em Firenze. E, como até então não o conhecia, minha rotineira tranqüilidade deu lugar a um misto de excitação pela novidade e preocupação em ser pontual.

Por sorte, meus temores haviam sido em vão. Quando cheguei ao nosso ponto de encontro, na Piazza della Republica, Marcelo não se achava em nenhum lugar que meus olhos pudessem alcançar. Foi neste momento que recordei-me de não estar na Inglaterra, porém na Itália e, conforme havia aprendido com um nativo, in Italia va bene arrivare con cinque minuti di ritardo.

Atravessei a praça, cortando um grupo de crianças que ziguezagueavam entre si, numa interminável farândola, e aportei em frente a uma loja de departamentos para fugir do vento gélido e cortante. Passei a admirar um casal muito idoso que, vizinhos a mim, discutiam  calorosamente, embora sempre respeitosos, sobre os malefícios do cigarro. Minha risada surgiu baixa e involuntária, ao imaginar que esses senhores certamente já faziam parte da paisagem florentina.

Neste meu momento de distração, senti uma mão pousar sobre meu ombro direito. Virei-me de sobressalto para enxergar um homem de seus quarenta anos e sorriso tímido - prazer, sou Marcelo, disse ele.

Lembro-me que nos dirigimos a um café próximo, sentamos na mesa mais afastada do balcão e pedimos o que todo italiano come em seu desjejum: um belo cornetto acompanhado por um robusto e abrasador cappuccino, enquanto confabulávamos sobre os mais variados temas.

Dotado de uma passageira, porém crescente curiosidade, interroguei-o sobre os prós e contras de sua vida na cidade berço do Renascimento, e qual não foi a minha perplexidade ao tomar conhecimento de que meu primo havia sido casado com uma donna da secular e influente família Antinori.



Os Antinori são oriundos de Val di Sieve, zona toscana conhecida pelos vinhos Chianti Rùfina DOCG e Pomino DOC, contudo, nos primórdios do Duecento, devido aos danos significativos que suas terras sofreram, ocasionados pelas guerras entre os Guelfi e os Ghibellini, transferiram-se para Firenze.

Bastante influentes politicamente, os Antinori eram uma família mercante inscrita na Arte della Seta, uma das sete grandes corporações de arte e ofício de Firenze na Idade Média. Posteriormente, devido à sucursais que abriram em Bruges e Lyon, e da rede de negócios que elaboraram por toda Europa, também fixaram-se na guilda dos banqueiros, denominada Arte del Cambio.

Porém foi através da produção de vinhos que os Antinori fizeram-se dominantes. Em 1385, Giovanni di Piero Antinori tornou-se membro da Arte dei Vinattieri, a organização dos enólogos de Firenze. Desde então, são mais de seis séculos e vinte e seis gerações dos Antinori envolvidas na produção de vinhos, que atingiram níveis de excelência nas muitas fazendas na região do Chianti.

Hoje, o Marquês Piero Antinori está a frente dos negócios da família, e é o encarregado em manter a tradição, a paixão e a intuição, princípios básicos da família. Nas suas palavras "raízes antigas desempenham um papel importante no nosso trabalho, mas nunca foi um limite para o nosso espírito inovador".



Um dos melhores exemplos da arquitetura florentina de meados do século XV é o Palazzo Antinori, residência da família, localizado no centro histórico de Firenze, com entrada pela rua nobre-fashion da cidade, a Via de' Tornabuoni.



Situada no piso térreo do Palazzo Antinori está a atraente Cantinetta Antinori, que tive a satisfação em conhecer no último ano, e classifico como um dos restaurantes mais agradáveis e interessantes de Firenze. É um must go!



Como no passado, é possível ao turista desfrutar de toda gama de vinhos Antinori, em garrafa ou taça, enquanto degusta uma seleção de especialidades da cozinha toscana, muitas das quais preparadas com ingredientes colhidos nas diferentes propriedades dos Antinori.



O restaurante é pequeno, intimista e extremamente charmoso, com um interior aconchegante, composto por dois pisos. Como vocês podem ver na foto acima, escolhi o superior, simplesmente por ser o mais reservado.

O garçom, cujo sobrenome deve ser Simpatia, conquistou a mesa com seu humor, sua educação e sua competência. Rapidamente solicitei um Tignanello ( € 53 ), um blend das uvas Sangiovese, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Não arranquem meu escalpo, mas infelizmente ficarei devendo a foto.



Os pratos na Cantinetta Antinori têm apresentação elegante e sabor indescritível. E assim chegou à mesa este Raviolli al Ragù ( € 16 ), um clássico toscano, mas que nesta casa faz direito à expressão "comer de joelhos". Por favor, ignorem a Coristina D na foto. Que vergonha...


Como se não bastasse, meu secondo piatto conseguiu ser superior. Este aromático Medaglione di Salmone ( € 28 ) estava grelhado à perfeição, ou seja, crocante por fora, porém macio e suculento em seu interior. Veio sob molho levíssimo de ervas com lascas da casca de limão e acompanhado por um puré de batatas deliciosamente amanteigado. Mais do que um prato, um sonho!

Assim como deve ser um sonho o de acordar todos os dias em uma cidade tão sublime como Firenze. Ah, bem gostaria eu de ter o seu fado, Marcelo!

ENDEREÇO:
Piazza Antinori, 3, Firenze
Horários: segundas à sextas, das 12h às 14:30; e das 19h às 22:30. Não abre nos finais de semana.
Tel. +39 055 292234





quarta-feira, 18 de julho de 2012

RISTORANTE I DUCHI - Era Uma Vez...

"Os hobbits são um povo discreto mas muito antigo, mais numeroso outrora do que é hoje em dia. Amam a paz e a tranqüilidade e uma boa terra lavrada: uma região campestre bem organizada e bem cultivada era seu refúgio favorito".

Minha imediata impressão ao avistar a região italiana denominada Le Marche foi a de estar inserindo-me em um conto de J.R.R. Tolkien. Lá, vivi todo o fabuloso mundo descrito por Tolkien em "O Senhor dos Anéis": o Condado dos Hobbits, a cidade medieval de Bri, as nevadas Montanhas Sombrias e o imponente castelo de Gondor.

Bem, não exatamente. Contudo, minha comparação deve-se a duas razões: a primeira, o povo marchigiano, igual aos hobbits de Tolkien, é adepto da existência agrícola, estabelecendo, a partir daí, o seu próprio ritmo de vida, mais calmo e sossegado, ascetas e sem luxos, de tal maneira que a sensação que se tem é de que se esqueceram do resto do mundo. E o segundo motivo, é que Le Marche poderia perfeitamente ter servido de inspiração para o escritor compor suas obras fantásticas, tamanha a sua semelhança com a Terra Média.

A origem do nome Le Marche remonta à Idade Média, quando os Longobardi, habitantes das terras orientais da Alemanha, ocuparam o lado sul desta região e, como era comum entre os povos germânicos, chamaram suas fronteiras territoriais de Mark. O nome Marche, adaptado ao italiano, começou desde então a ser utilizado para a parte centro-sul, tornando-se, posteriormente, o nome oficial de toda região.



Le Marche, ou simplesmente Marche, é uma região central da Itália, que possui geograficamente uma extensa área ocupada pelos Appennini, a cadeia de montanhas que corta o país de norte a sul. Nesta porção, Marche é rica em bosques, vales e cavernas naturais, e é seguida por uma ampla gama de colinas cultivadas, as quais, por sua vez, formam mosaicos de diversas tonalidades de verde e seguem seu curso rumo ao litoral, onde praticamente tocam a infinitude do mar Adriático.

Pode-se dizer que Marche é uma região injustiçada da Itália. Não tem a grife da turística Toscana, mas é dona de cidades e paisagens tão atrativas quanto as desta. Não possui o apelo religioso da Umbria de San Francesco, embora tenha sido leito de importantes personagens na história da Igreja Católica, bem como abrigado outros mais. É a roça italiana em seu mais puro estado.


Em Marche encontra-se a cidade de Camerino, situada na borda dos Monti Sibillini, entre os vales de Chienti e Potenza, no topo de uma colina, a 670 metros acima do nível do mar.

De origem pré-romana, Camerino é uma antiga città ducale, que foi conhecida, através dos séculos, pelo seu elevado nível de dignidade política e eclesiástica e um tom de vida econômica e civil notável.

Conserva, de seu fulgente passado, numerosas e valiosas evidências, principalmente da Renascença, quando a cidade alcançou seu ápice prestigioso, sob o domínio de Giulio Cesare da Varano, lúcido governante de uma das dinastias mais longas da Itália.



Camerino é, também, reduto de poucos porém ótimos restaurantes, os quais eu terei o enorme prazer em indicar-lhes neste e em outros posts futuros.

Assim, começo hoje, em grande estilo, apresentando-lhes o Ristorante I Duchi, cujo nome presta homenagem ao período no qual Camerino era uma influente cidade ducal.



O Hotel I Duchi é, provavelmente, o que há de melhor, em termos de acomodações, que Camerino tem a oferecer aos seus turistas. Localização privilegiada, dentro dos muros da cidade, quartos confortáveis e limpos, tarifas razoáveis, além de serviços de bar e restaurante.



Seu restaurante, de mesmo nome, é um capítulo à parte, que merece nossa especial atenção.

Com seu ambiente quente e acolhedor, serviço atencioso e menu "a la carte" que propõem especialidades enraizadas nas antigas tradições da cozinha marchegiana, o Ristorante I Duchi deve ser apreciado por aqueles que um dia visitarem Camerino.



Nada como abrir o apetite com esta Polenta con Salsiccia, Funghi e Fontina (  7 ). A polenta, incrivelmente macia, chegou à mesa coberta por tiras de cogumelos, linguiça moída e duas fatias do maravilhoso queijo fontina. É uma profusão de aromas e sabores que fez valer cada garfada.



O Gnocchi di Patate in Salsa di Anatra (  8,50 ) foi o ponto fraco da noite. Não estava particularmente ruim, mas eu podia contar em uma mão os pedaços de pato. Portanto, nada mais era do que um gnocchi al pomodoro, o que, para mim, tornou o prato frustrante.



Todavia, o próximo prato compensou, com sobras, este pequeno deslize do I Duchi. O papel coube a este Panzerottini Gorgonzola e Noci 8 ), um tipo de massa, em forma de pequenos travesseiros recheados com carne magra, bastante difundida por toda Costa Adriática. Sua consistência era al dente, como deve ser uma boa massa italiana. Já o molho estava suave e cremoso.



E, para terminar, o prato mais simples da noite, porém o "campeão de audiência" (ao menos em minha mesa). Senhoras e senhores, eis aqui a Scamorza Affumicata con Prosciutto Crudo 8 )!



Como disse, não poderia ser mais singelo. Trata-se unicamente do queijo scamorza defumado e assado coberto por uma fatia de presunto cru. A scamorza é um queijo produzido nas regiões sul da Costa Adriática, possuindo consistência análoga à do queijo provolone, porém com sabor mais brando.

Lanço aqui um desafio: não creio que qualquer amante de queijo, após provar este prato, deixe o Ristorante I Duchi sem um sorriso de orelha à orelha. E foi exatamente desta forma que saí de lá.

Camerino é uma delícia de cidade, não apenas pela sua localização privilegiada, entre os bosques, as colinas e as montanhas da Terra Média... quero dizer, de Marche (ops!), mas sobretudo pelos prazeres que oferece a todo apaixonado pela boa mesa.

ENDEREÇO:
Via Varino Favorino, 72, Camerino
Tel. +39 0737 630440
http://www.hoteliduchi.com/

sexta-feira, 13 de julho de 2012

GELATERIA PERCHÈ NO! - Porque Sorvete na Itália é Coisa Séria!

Revendo meus posts antigos, atentei-me para um fato curioso: ainda não publiquei uma foto sequer contendo doces italianos. Isto deve, provavelmente, soar estranho e, talvez, displicente de minha parte, uma vez que a Itália é detentora de algumas das sobremesas mais conhecidas no mundo. O tiramisu, o creme de zabaione, os biscoitos amaretti, o cantucci mergulhado no vin santo ou, ainda, a panna cotta certamente representam com autoridade a riqueza culinária italiana.

Diante deste quadro, cabe-me apontar-lhes os culpados aqui, que são dois.

O primeiro, como não poderia deixar de ser, é aquele que vos escreve. Afirmo que nunca me faltou curiosidade para degustar tais iguarias ao término de cada refeição, porém estou muito distante de ser um desvairado pelo açúcar. Logo, a essa altura, geralmente encontro-me com o apetite extinto e munido de um crescente desejo de me pôr em pé o quanto antes para seguir viagem.

Como padeço desta vontade incontrolável por erguer-me e caminhar enquanto faço a digestão, necessitaria de um doce o qual eu pudesse consumir ao mesmo tempo em que "bato perna", e, infelizmente, nenhum dos acima citados preenche este requisito. O que nos leva ao segundo culpado: o gelato italiano.

Vocês, por acaso, sabem o que é Carpigiani? Na comune de Anzola Dell'Emilia, província de Bologna, foi criado um projeto cultural para suportar o desenvolvimento das sorveterias, bem como difundir o prazer e o sabor do sorvete artesanal italiano em todo mundo. Surge, assim, a primeira universidade de sorvetes do planeta, a Carpigiani Gelato University, um centro internacional de formação ao serviço de quem intenciona trabalhar ou já labora no setor de sorveterias.

Observem, por conseguinte, porque entitulei que, na Itália, sorvete é assunto sério. Como resultado, é interessante admirar o intenso bailado de turistas e locais continuamente entrando e abarrotando-se em pequenas sorveterias, cobiçosos pelo primeiro lugar na fila para, após, afastarem-se do estabelecimento deleitando-se com sua maravilha gelada, sustentada por um belo cono.



Sempre me impressiona, nas grandes cidades italianas, a quantidade de casas dedicadas ao sorvete. No centro de Firenze, sem qualquer exagero, a cada 50 metros de caminhada você irá se deparar com uma sorveteria diferente, levando-o, à sensação de que são ubíquas.

Dentre elas, algumas se destacam. É o caso da Grom, da Vivoli e da Perchè no!



Falemos hoje especificamente da histórica Gelateria Perchè no!, sorveteria com endereço no centro de Firenze, entre a Cattedrale di Santa Maria del Fiore e a Piazza della Signoria.

Por uma agradável coincidência, fica na mesma rua do apartamento que aluguei na primeira vez em que estive na Itália. Sorte a minha!


Esta casa foi fundada em 1939, em plena Segunda Guerra Mundial, e, em conseqüência disso, submeteu-se à algumas das adversidades vividas à época, como a carência de ingredientes e de eletricidade, que a impedia de estocar seu produto final em freezers.

Buscando alternativas para manter-se funcionando, a Perchè no! realizou ensaios utilizando a espuma da clara de ovo,  então criando o chamado semifreddo, que não necessita ser propriamente resfriado, por já possuir sua consistência similar à de uma mousse, podendo assim perfeitamente substituir o sorvete.


Em 1946, reza a lenda, a Perchè no! tornou-se a primeira gelateria a instalar uma vitrine em seu balcão, para que seus clientes pudessem melhor selecionar suas opções de sabores. Algo que deu tão certo, que passou a ser copiado pelas suas concorrentes.


A Tauck World Discovery, uma companhia que presta serviços de turismo e excurções ao redor do mundo, realizou uma pesquisa em 2008, junto a seu staff, para saber qual seria a melhor sorveteria do mundo, conferindo a Perchè no! o segundo lugar geral.

Vê-se logo que não é pouca coisa! Por experiência própria, aconselho-os a conhecer esta sorveteria.

Seus preços são variados. Na Itália, você não paga pelo número de bolas de sorvete, mas sim pelo tamanho do copinho ou da casquinha que você pede. Desta maneira, se você solicitar uma casquinha maior, receberá uma quantidade superior de sorvete (de um, dois, três ou até quatro sabores, à escolha, dependendo do tamanho escolhido), porém, em contrapartida, ficará alguns euros mais pobre.

Mas não há com o que se assustar. Os preços obedecem à norma florentina, logo variam de € 3 a € 7, dependendo da dimensão de sua fome (ou gula).


Na Perchè no! serve-se também a granita, que é a nossa raspadinha de gelo, ou seja, feita com água e sem adição de leite. É quase como um suco de frutas semi-congelado. Embora privado da cremosidade do sorvete, é ótimo para aqueles que encontram-se sedentos.



Finalmente, entrei no site oficial da Perchè no! e apropriei-me desta foto somente para conferir-lhes uma dica. Eu sei que lá existem dezenas de opções de sabores, mas provem o sorvete de lampone (framboesas). Eu mesmo demorei algumas idas para experimentá-lo, e a partir do momento em que o fiz, passei a ter um novo favorito para freqüentar a minha coppa.

ENDEREÇO:
Via dei Tavolini, 19R, Firenze
Horários: terças, das 12h às 20h; demais dias da semana, das 11h às 24h
Tel. +39 055 2398969



segunda-feira, 9 de julho de 2012

DA BAFFETTO - A Melhor Pizza Romana

Hoje escrevo sobre uma de minhas comidas prediletas. E adianto-lhes, não é nada requintada tampouco dispendiosa. Ao contrário, trata-se, provavelmente, da refeição mais democrática e difundida no mundo. Então, sem maiores mistérios, até porque vocês já atentaram para o título deste post, estou me referindo, é claro, a boa e velha pizza. E, sejamos honestos, eu jamais poderia criar um blog para falar a respeito de restaurantes na Itália sem mencionar tal maravilha.

Na verdade, Itália e pizza têm laços fortíssimos que os unem. E não é para menos! Inclusive, quando agendamos uma viagem à Velha Bota, geralmente temos um amigo ou conhecido que faz a famosa observação "boa viagem e coma muitas pizzas por mim".

A pizza é um produto gastronômico originário da cozinha italiana, possivelmente de Napoli, embora outras cidades italianas reinvidiquem sua paternidade até hoje. Uma simples mistura de água, farinha e fermento forma a sua base que, depois, receberá os mais variados ingredientes e condimentos antes de ser levada ao forno para a assadura.

Parece fácil, mas quantas vezes comemos pizzas que, digamos, deixaram a desejar? Eu falo por mim quando relato-lhes que, neste sentido, já vivi inúmeras desventuras.

Porém, como prometi ao criar este blog, apenas postarei minhas boas experiências na Itália. E hoje apresento-lhes a melhor pizzaria de Roma. E, por favor, não pensem que eu seria pretencioso para sustentar tal afirmação. Apenas repito o que me disse certa vez um romano: "vorresti assaggiare la vera pizza romana? Quindi ti consiglio la Pizzeria Da Baffetto".

Aqui necessito abrir um parênteses para explicar porque este italiano fez questão de especificar pizza romana.

A Itália é um país notavelmente regional em sua essência. Sendo assim, cada região ou cidade italiana tem uma personalidade própria. E isto se reflete de diversas formas como, por exemplo, na lingua (do Gallo Italico falado no norte do país ao Sardo da Ilha da Sardegna), na arquitetura (do equilibrío renascentista de Brunelleschi à exuberância do barroco de Bernini) e, como não poderia deixar de ser, na cozinha.


Portanto, se você quiser provar uma verdadeira pizza napolitana, que é aquela de massa mais grossa e macia, vá a Napoli. Se, por ventura, desejar que suas papilas gustativas deliciem-se com uma pizza siciliana, feita a partir do pão focaccia, viaje a Sicilia. E, finalmente, se sua intenção é conhecer a pizza romana, de massa fina e crocante, vá ao Da Baffetto. Não tem erro!


A Pizzeria Da Baffetto possui dois endereços em Roma. Quando estive na Cidade Eterna este ano, o restaurante mais antigo e tradicional, localizado na Via del Governo Vecchio, encontrava-se fechado para reformas. Deste modo, encaminhei-me para o Baffeto 2, que abriu suas portas no ano de 2004, na Piazza del Teatro di Pompeo.



Aviso: o lugar é pequeno, está sempre cheio e com fila de espera, portanto liguem e façam reserva ou cheguem cedo e esperem pacientemente. Ainda assim, asseguro-lhes que valhe a pena aguardar.



Acima, uma foto do Menu do Baffetto 2, em inglês, francês e, como não poderia faltar, italiano. Lembrando que, além das pizzas, o Da Baffetto serve formidáveis calzoni. O casal que se sentou ao meu lado estava devorando um e eu só sentia o cheirinho do presunto no ar. Quem sabe eu também não "mate" um quando lá retornar...




Meu propósito, ao sentar-me no Da Baffetto, era somente comer uma pizza, contudo confesso que, ao ler o cardápio, não pude deixar de pedir um dos meus salgados italianos favoritos, as Olive Ascolane ( € 4 ), junto a um vinho da casa ( € 12 - 1 litro), que chegou nesta charmosa jarra de cerâmica.


Proveniente da cidade marchegiana de Ascoli Piceno, as Ascolane são feitas a partir de azeitonas verdes em salmoura, as quais retira-se o caroço para, após, recheá-las com um composto macio a base de carne. Chegam à mesa empanadas e fritas. Sem palavras para descrever seu delicado sabor.



Eis o motivo de minha ida ao Da Baffetto, a nossa amiga Pizza ai 4 Formaggi ( € 7 ). Aqui faço um mea-culpa: sei que a pizza aos quatro queijos não é a mais bela de se ver, mas nosso amor é tão antigo, que não poderia ser infiel e pedir outro sabor justo em minha primeira estada no Da Baffetto.

Os quatro queijos em questão eram o gorgonzola, o stracchino, o caciotta e o caciocavallo, mas o que mais me agradou foi o molho de tomate, de gosto adocicado, ideal para quebrar o sabor pesado dos queijos. Quanto à massa, estava um biscoito tamanha sua crocância.

Lembram-se como comecei este texto ressaltando que a pizza é um alimento para todos? Pois bem, os italianos, criadores deste prato, sabem disso. E, inversamente às metrópoles brasileiras, na Itália você pode saborear uma boa pizza sem, para isso, gastar um patrimônio, mas sim pagando o seu preço justo.

ENDEREÇO:
Piazza del Teatro di Pompeo, 18, Roma
Horários: dias úteis (exceto terça-feira), das 18:30 às 00:30; sábados e domingos, das 12:30 às 15:30 e das 18:30 às 00:30
Tel. +39 06 68210807
Pode fazer reservas pelo site.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

BAR PIAZZETTA - Bar, Doce Bar

Horário comercial nas pequenas cidades da Itália (em Roma é diferente) geralmente vai das 9h às 13h, seguido de uma pausa para descanso, com retorno às funções laborativas previsto para 16h e término de expediente diário às 19h. Restaurantes, por sua vez, abrem para almoço, fecham e, posteriormente, reabrem para jantar. Parece besteira, mas como eu demorei a me adaptar à rotina dos italianos!

Lembro-me claramente que, certa vez, observei a um italiano que, se ele abrisse mão de parte de sua siesta, teria uma possibilidade real de auferir maiores vantagens econômicas. O homem sorriu e, calmamente, respondeu-me que dinheiro é uma coisa mundana e temporária e a ele interessa apenas possuir uma qualidade de vida superior, e que este é o segredo da felicidade. Sua resposta me fez refletir: eu e meu pensamento ávido-capitalista estaríamos errados?

Eu fiz questão de contar esta passagem para demonstrar-lhes como na Itália das pequenas cidades a vida funciona em outro ritmo, mais lento, mais sossegado... mais prazeiroso.



Dentre as pequenas vilas italianas, uma, para mim, é especial: a cidade toscana de San Gimignano.

Se eu pudesse descrever San Gimignano em uma palavra somente, eu diria impactante. É uma volta à Idade Média. Uma cidade que venceu o tempo, mas que respira os ares de outrora.


Esta cidade é, acima de tudo, famosa pelas suas torres medievais, que dominam todo o seu panorama e que deram a ela o apelido de Manhattan da Idade Média.

É, justamente, do período medieval a construção das torres em San Gimignano, que ao todo, chegaram a 72. Isto porque a cidade fervia com as disputas entre famílias nobres e endinheiradas que visavam a ostentação de seu poder. Quanto maior era a torre, mais importante e influente era a família.

Hoje, o número total de torres foi reduzido a somente 14, porém a mais alta de todas ainda existe e é aberta ao turismo.  A Torre del Podestà, chamada também de Torre Grossa, possui 54 metros de altura (parece pouco hoje em dia, mas imagine nos idos de 1200 como era difícil erguer um prédio desta magnitude).



O turista compra um bilhete que custa não mais que € 5, e tem direito a uma visita ao museu cívico da cidade, nos primeiros andares da própria torre, bem como, se tiver físico e coragem, subir a própria até a torre do sino (são 218 degraus - não se esqueçam que tudo que sobe, desce). Eu recomendo para aqueles que desejam tirar fotos como esta acima.



Após esta aventura, nada melhor do que sentar em um café, recuperar o fôlego, comer algo e apenas relaxar, enquanto observa a dança de pedestres nas estreitas ruas da cidade. Escolhi o simpático Bar Piazzetta, que fica em uma pequena praça do centro histórico, junto aos muros da cidade.


O ambiente é simples, despretencioso, deveras iluminado e informal. A partir da porta de entrada, existe um balcão em forma de L, margeado por algumas cadeiras, ideais para um pit-stop rápido. Anexo, há uma sala com algumas mesas, onde resolvi me acomodar.


Na foto acima, algumas delícias do balcão: doces típicos italianos.



E aqui, a saleta própria para almoços, onde me sentei. A parede que a foto não mostra é de vidro e dá de frente para a praça, o que ilumina e confere vida ao lugar.


Apressei-me a solicitar uma taça de um Chianti Classico ( € 4) e fiquei devorando as fatias de pão esperando pelo meu pedido...


... que foi, primeiramente um Antipasto Toscano ( € 10). Este prato é, na verdade, uma seleção de alguns produtos italianos. Dentre eles, salames de dois tipos, prosciutto crudo, pedaços de formaggio pecorino (queijo feito com leite de ovelha) e carciofi (corações de alcachofra).

É o prato ideal para degustar enquanto bebericava meu vinho.


Como minha fome persistia, resolvi saciá-la de uma vez por todas com um pedaço desta Lasagna al Ragù ( € 9).

De massa verde e recheio cremoso, a lasanha veio fumegante e polvilhada de queijo parmesão. Era tudo que eu precisava para seguir viagem e continuar meu reconhecimento de San Gimignano. Muitas surpresas ainda me aguardavam neste belíssimo borgo...

ENDEREÇO:
Piazzetta Buonnaccorsi, 5, San Gimignano
Tel. +39 0577 1652198