Revendo meus posts antigos, atentei-me para um fato curioso: ainda não publiquei uma foto sequer contendo doces italianos. Isto deve, provavelmente, soar estranho e, talvez, displicente de minha parte, uma vez que a Itália é detentora de algumas das sobremesas mais conhecidas no mundo. O tiramisu, o creme de zabaione, os biscoitos amaretti, o cantucci mergulhado no vin santo ou, ainda, a panna cotta certamente representam com autoridade a riqueza culinária italiana.
Diante deste quadro, cabe-me apontar-lhes os culpados aqui, que são dois.
O primeiro, como não poderia deixar de ser, é aquele que vos escreve. Afirmo que nunca me faltou curiosidade para degustar tais iguarias ao término de cada refeição, porém estou muito distante de ser um desvairado pelo açúcar. Logo, a essa altura, geralmente encontro-me com o apetite extinto e munido de um crescente desejo de me pôr em pé o quanto antes para seguir viagem.
Como padeço desta vontade incontrolável por erguer-me e caminhar enquanto faço a digestão, necessitaria de um doce o qual eu pudesse consumir ao mesmo tempo em que "bato perna", e, infelizmente, nenhum dos acima citados preenche este requisito. O que nos leva ao segundo culpado: o gelato italiano.
Vocês, por acaso, sabem o que é Carpigiani? Na comune de Anzola Dell'Emilia, província de Bologna, foi criado um projeto cultural para suportar o desenvolvimento das sorveterias, bem como difundir o prazer e o sabor do sorvete artesanal italiano em todo mundo. Surge, assim, a primeira universidade de sorvetes do planeta, a Carpigiani Gelato University, um centro internacional de formação ao serviço de quem intenciona trabalhar ou já labora no setor de sorveterias.
Observem, por conseguinte, porque entitulei que, na Itália, sorvete é assunto sério. Como resultado, é interessante admirar o intenso bailado de turistas e locais continuamente entrando e abarrotando-se em pequenas sorveterias, cobiçosos pelo primeiro lugar na fila para, após, afastarem-se do estabelecimento deleitando-se com sua maravilha gelada, sustentada por um belo cono.
Sempre me impressiona, nas grandes cidades italianas, a quantidade de casas dedicadas ao sorvete. No centro de Firenze, sem qualquer exagero, a cada 50 metros de caminhada você irá se deparar com uma sorveteria diferente, levando-o, à sensação de que são ubíquas.
Dentre elas, algumas se destacam. É o caso da Grom, da Vivoli e da Perchè no!
Falemos hoje especificamente da histórica Gelateria Perchè no!, sorveteria com endereço no centro de Firenze, entre a Cattedrale di Santa Maria del Fiore e a Piazza della Signoria.
Por uma agradável coincidência, fica na mesma rua do apartamento que aluguei na primeira vez em que estive na Itália. Sorte a minha!
Esta casa foi fundada em 1939, em plena Segunda Guerra Mundial, e, em conseqüência disso, submeteu-se à algumas das adversidades vividas à época, como a carência de ingredientes e de eletricidade, que a impedia de estocar seu produto final em freezers.
Buscando alternativas para manter-se funcionando, a Perchè no! realizou ensaios utilizando a espuma da clara de ovo, então criando o chamado semifreddo, que não necessita ser propriamente resfriado, por já possuir sua consistência similar à de uma mousse, podendo assim perfeitamente substituir o sorvete.
Em 1946, reza a lenda, a Perchè no! tornou-se a primeira gelateria a instalar uma vitrine em seu balcão, para que seus clientes pudessem melhor selecionar suas opções de sabores. Algo que deu tão certo, que passou a ser copiado pelas suas concorrentes.
A Tauck World Discovery, uma companhia que presta serviços de turismo e excurções ao redor do mundo, realizou uma pesquisa em 2008, junto a seu staff, para saber qual seria a melhor sorveteria do mundo, conferindo a Perchè no! o segundo lugar geral.
Vê-se logo que não é pouca coisa! Por experiência própria, aconselho-os a conhecer esta sorveteria.
Seus preços são variados. Na Itália, você não paga pelo número de bolas de sorvete, mas sim pelo tamanho do copinho ou da casquinha que você pede. Desta maneira, se você solicitar uma casquinha maior, receberá uma quantidade superior de sorvete (de um, dois, três ou até quatro sabores, à escolha, dependendo do tamanho escolhido), porém, em contrapartida, ficará alguns euros mais pobre.
Mas não há com o que se assustar. Os preços obedecem à norma florentina, logo variam de € 3 a € 7, dependendo da dimensão de sua fome (ou gula).
Mas não há com o que se assustar. Os preços obedecem à norma florentina, logo variam de € 3 a € 7, dependendo da dimensão de sua fome (ou gula).
Na Perchè no! serve-se também a granita, que é a nossa raspadinha de gelo, ou seja, feita com água e sem adição de leite. É quase como um suco de frutas semi-congelado. Embora privado da cremosidade do sorvete, é ótimo para aqueles que encontram-se sedentos.
Finalmente, entrei no site oficial da Perchè no! e apropriei-me desta foto somente para conferir-lhes uma dica. Eu sei que lá existem dezenas de opções de sabores, mas provem o sorvete de lampone (framboesas). Eu mesmo demorei algumas idas para experimentá-lo, e a partir do momento em que o fiz, passei a ter um novo favorito para freqüentar a minha coppa.
ENDEREÇO:
Via dei Tavolini, 19R, Firenze
Horários: terças, das 12h às 20h; demais dias da semana, das 11h às 24h
Tel. +39 055 2398969
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